Maria Bethânia e Zeca Pagodinho mostram em BH a parceria improvável que deu samba

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Eles unem seus talentos e afetos no show ‘De Santo Amaro a Xerém’, que tem única apresentação neste sábado (5) no KM de Vantagens Hall

Betânia e Zeca: De Santo Amaro a Xerém

Até 1973, Zeca Pagodinho conhecia o trabalho de Maria Bethânia apenas superficialmente. Pois veio o álbum duplo, gravado ao vivo, Drama – 3º ato. O então adolescente de Xerém ficou mesmerizado. Conheceu, ali, as primeiras gravações de Filhos de Gandhi (Gilberto Gil), Atrás da porta (Chico Buarque/Francis Hime) e Preciso aprender a só ser (Gil).

“Foi ali que prestei atenção nela. Decorei o LP todo”, relembra Zeca, logo acrescentando: “Nem sonhava que um dia ia vê-la”. Quanto mais dividir o palco com ela. “Olhe como a vida é”, continua o sambista.

Zeca Pagodinho se une a Maria Bethânia neste sábado (5), no KM de Vantagens Hall, para fazer uma das seis apresentações da curta turnê De Santo Amaro a Xerém. Iniciada em abril, no Recife, a temporada de shows vai até 30 deste mês, em Brasília.

“Improvável” é um adjetivo que veio à tona logo que os shows foram anunciados. Bethânia, a dama dos palcos, com forte presença cênica, sempre muito intensa. Zeca, leve, despretensioso, quase descompromissado em cena.

Bethânia nunca pensou nessa improbabilidade. “Nascemos em Santo Amaro e Xerém, isso é que é o elo. E do mesmo modo que eu, ele tem muita simplicidade. O show é completamente livre. Ele escolheu as músicas dele, eu as minhas. Não deixo de ser Maria Bethânia no palco, assim como ele não deixa de ser Zeca Pagodinho. Nossas diferenças é que nos aproximam”, comenta a cantora.

A união foi tão celebrada que até o mano Caetano, que há três anos não compunha nenhuma canção – e há 26 não fazia uma música para a irmã mais nova – entrou na jogada. É o samba inédito Amado Xerém que abre o show (veja o repertório completo abaixo).

CAETANO “Escrevi para o Caetano falando do show, dessa coisa de Santo Amaro e Xerém. O Zeca é grande admirador do Caetano, e ele é louco pelo Zeca. Disse para ele: ‘Pensei muito nisso, quem sabe você está disposto.’” Caetano, na época em que Bethânia lhe mandou o e-mail, estava em Nova York. Demorou uma semana para responder, tanto que ela achou que ele nem sequer se interessaria. “Mas aí ele mandou uma gravação linda dessa música, levei para o Zeca, que adorou, e ela virou nosso talismã.”

O encontro surgiu a partir da participação de Bethânia na terceira edição do CD/DVD Quintal do Pagodinho (2016). No registro, ela dividiu com ele Sonho meu, de Dona Ivone Lara, justamente a segunda canção do show. “Naquela época, o Zeca fez um comentário como um complemento à música. Disse: ‘Pois é, agora sou eu e ela, e ninguém quebra, de Santo Amaro a Xerém’”, lembra Bethânia.

O show é meio a meio. Bethânia e Zeca chegam juntos para a primeira parte da apresentação – vão se unir novamente somente no set final. Depois, cada um tem seu próprio momento, seja cantando seu próprio repertório, seja homenageando as escolas de samba do coração (Portela, a dele; Mangueira, a dela).

Até o combo de músicos que os acompanha é dividido. Paulão Sete Cordas (dele) e Jaime Alem (dela) fazem a direção musical das apresentações, que, além dos violões dos dois diretores, ainda contam com os músicos Rômulo Gomes (baixo), Paulo Dafilin (violão e viola), Marcelo Costa (bateria e percussão), Jaguara (percussão), Esguleba (percussão), Paulo Galeto (cavaquinho) e Vitor Mota (sax e flauta).

Ainda que a definição do repertório tenha sido natural, para usar as palavras de Bethânia, ela fez algumas sugestões a Zeca. “Sou metida, então, se colar, colou. Eu brinco com ele, que me diz: ‘Bethânia, não me dá mais música nova, não quero aprender mais.’ Outro dia, no show da Bahia, o Zeca estava cantarolando É de manhã, do Caetano. Passei por ele, que me disse: ‘Daqui a pouco vai me pedir para cantar essa.’ A questão é que ele conhece muito o repertório do Caetano, ele vem de uma família musical, é bem informado, elegante.”

Zeca afirma: “Também conheço bastante de Gil, João Nogueira, a minha onda é essa.” Agora ele se diz bem tranquilo quanto aos shows. “Mas foi um desafio. Acho que fui bem, pois me aplaudiram”, comenta, com simplicidade. E continua na mesma onda. “Ela que me falava que achava que eu tinha que cantar tal música. Foi ela quem me disse ‘você pode’. E ouvir isso de Bethânia me deu muita força.” Bethânia conhece Xerém; Zeca ainda não foi a Santo Amaro da Purificação, na Bahia. “Estou devendo isso a ela”, ele diz.

O encontro nos palcos deverá, pelo menos por ora, parar por aí. Não há a previsão de um registro ao vivo. “Comigo não foi falado nada sobre isso. Agora, eu, particularmente, tenho vontade, nem falei ainda com o Zeca sobre isso, de gravar com ele o samba do Caetano. Uma coisa simples, pequena”, diz ela.

Terminada a temporada, Bethânia e Zeca estarão às voltas com novos discos, individuais. “Acabei de assinar um novo contrato com a Biscoito Fino e quero fazer um disco o mais breve possível. Sei que o Zeca assinou novo contrato também recentemente.”

Entretanto, não será surpresa se o novo álbum de Bethânia trouxer alguma coisa do repertório do show. Em sua parte solo, ela está interpretando três inéditas: Pertinho de Salvador (feita em homenagem a Santo Amaro) e De Santo Amaro a Xerém (ambas são de Leandro Fregonesi) e A surdo 1, presente que Bethânia ganhou de Adriana Calcanhotto depois que a Mangueira venceu o carnaval de 2016 com o enredo que celebrava a cantora baiana. Todas as três são sambas, vale dizer.

Confira o repertório do show 
Para cantar juntos

Bethânia e Zeca
Amaro Xerém (Caetano Veloso, 2018)
Sonho meu (Ivone Lara e Délcio Carvalho, 1978)
Você não entende nada (Caetano Veloso, 1970)
Cotidiano (Chico Buarque, 1972)
Falsa baiana (Geraldo Pereira, 1944)
A voz do morro (Zé Kéti, 1955)

Zeca
Verdade (Nelson Rufino e Carlinhos Santana, 1996)
Maneiras (Silvio da Silva, 1987)
Não sou mais disso (Zeca Pagodinho e Jorge Aragão, 1996)
Saudade louca (Arlindo Cruz, Acyr Marques e Franco, 1989)
Vai vadiar (Monarco e Ratinho, 1998)
Coração em desalinho (Monarco e Ratinho, 1986)
Samba pras moças (Roque Ferreira e Grazielle, 1995)
Ogum (Marquinhos PQD e Claudemir, 2008)

Bethânia
Marginália II (Gilberto Gil e Torquato Neto, 1968)
Pano legal (Billy Blanco, 1956)
Café soçaite (Miguel Gustavo, 1955)
Ronda (Paulo Vanzolini, 1953)
Negue (Adelino Moreira e Enzo Almeida Passos, 1960)
Pertinho de Salvador (Leandro Fregonesi, 2018)
Reconvexo (Caetano Veloso, 1989)
De Santo Amaro a Xerém (Leandro Fregonesi, 2018)

Zeca (tributo à Portela)
Portela na avenida (Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, 1981)
Lendas e mistérios da Amazônia (Catoni, Jabolô e Valtenir, 1970)
Foi um rio que passou em minha vida (Paulinho da Viola, 1970)

Bethânia (tributo à Mangueira)
Jequitibá (José Ramos, 1949)
Exaltação à Mangueira (Enéas Brites da Silva e Aloísio Augusto da Costa, 1955)
Chico Buarque de Mangueira (Nelson Dalla Rosa, Vilas Boas, Nelson Csipai e Carlinhos das Camisas, 1997)
Atrás da verde-e-rosa só não vai quem já morreu (David Correia, Paulinho Carvalho, Carlos Senna e Bira do Ponto, 1993)
A surdo 1 (Adriana Calcanhotto, 2018)

Bethânia e Zeca
Diz que fui por aí (Zé Kéti e Hortênsio Rocha, 1964)
Desde que o samba é samba (Caetano Veloso, 1992)
Naquela mesa (Sérgio Bittencourt, 1972)
Chão de estrelas (Silvio Caldas e Orestes Barbosa, 1937)
Amaro Xerém (Caetano Veloso, 2018)
Deixa a vida me levar (Serginho Meriti e Eri do Cais, 2002)
O que é o que é (Gonzaguinha, 1982)

 

MARIA BETHÂNIA E ZECA PAGODINHO

Show De Santo Amaro a Xerém. Sábado (5), às 22h, no Km de Vantagens Hall. Av. Nossa Senhora do Carmo, 230, São Pedro. Ingressos à venda na bilheteria e pelo site Tickets for Fun.

 

 

 

FONTE: Portal Uai com adaptações de Gazeta OnlineG.

 

 

 

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Alex de Brito Limeira é jornalista e escritor. Esteve sete vezes entre os melhores novos escritores do país em concursos literários promovidos por casas editoriais de São Paulo e Rio de Janeiro. Em Abril de 2011 lançou o romance O Crime da Santa. Foi repórter no jornal Folha do Maranhão do Sul, em Carolina – MA; Instrutor autônomo de redação discursiva e dissertativa. Em Fortaleza dos Nogueiras é pioneiro na comunicação social - jornalismo, ao fundar, editar e apresentar o Jornal da Cidade, na rádio Cidade FM de 2003 a meados de 2004. Foi âncora do Jornal da Cidade na antiga TV Cidade, editor e apresentador do jornal de mesmo nome na Rádio Cidade FM. Fundou a Gazeta Sul Maranhense (Fortaleza dos Nogueiras e região) e o site Gazeta OnlineG, que está em plena atividade. Em dezembro de 2022 torna-se um dos vencedores do desafio de criação de micro contos com o limite máximo de 150 caracteres e passa a compor a coletânea SEJA BREVE, SENÃO EU CONTO da Editora Oito e Meio de Flávia Iriarte - Rio de Janeiro.